"Escrever nada tem a ver com significar, mas com agrimensar, cartografar, mesmo que sejam regiões ainda por vir."

Gilles Deleuze

08 dezembro, 2009

Sem antes, nem depois

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É tudo AGORA. Onde passado e futuro se fundem através de memórias e expectativas, num presente concreto, possível e visível de um corpo que se torna translúcido. Tudo é AGORA, no espaço.

16 novembro, 2009

O Hábito de Sentar e Pensar e Pensar e Pensar e depois Levantar


Não é comum.

Não é fácil.

E é um processo. Com início, meio, meio, meio e fim.

Não dá mais pra viver nesse tempo.

02 novembro, 2009

Algo superficial sobre o pouco que sei das coisas


Na verdade, não entendi.

Acho que não entendi sobre tudo aquilo que foi mostrado.


Assisti “Frost Nixon” hoje. E pensei em muitas coisas. E pensei que nunca se pode saber de tantas coisas juntas, ao mesmo tempo. E vi que falar sobre isso é pior ainda. Se faltam palavras para dizer o que entendemos, quando não entendemos, dizer se torna ainda mais intraduzível.


São ações. O filme fala de ações. Mas não adianta buscar as ações no tema. O filme não fala de ações. Agir é extremamente comprometedor. Mostra aquilo que te impulsiona. Porque é mentira dizer que nos escondemos atrás da superfície. Que nossas ações nem sempre revelam o que nos acontece por dentro. Susan Sontag diz que “o mais profundo é a superfície”. Mentira. Não foi ela quem disse. Mas ela fala tantas coisas desse tipo que poderia ter sido uma frase dela. E eu não lembro quem disse. A gente nem sempre lembra das coisas, mas são elas que impulsionam nossas ações. E mostram aquilo que, muitas vezes, não queremos admitir. E dizemos que “o corpo esconde o que vai na alma”. Não. “O mais profundo é a pele”, como disse Paul Valéry.

01 novembro, 2009

Lá, onde não tem aqui. Mas desejando o contrário...

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Estava do lado de fora.
"Trancada do lado de fora", como disse um sábio.
Estive escrevendo muito, fora daqui.
Me esgostei. Lá.
O lado de fora absorve...
Tudo o que tem dentro.

Agora entrei em casa de novo.
Um pouco rapidamente...
Vim tomar um banho,
Relaxar,
E pensar poeticamente!

Abastecida,
Volto pro lado de fora
Porque é lá que preciso viver
Apesar de saber
Que é dentro de casa
Que eu descanso e me sinto segura.


Para Gabriel Velasco.

05 setembro, 2009



Às vezes penso que não tenho vida. Não tenho vida real como as pessoas reais. Não me sinto melhor que ninguém por isso, mas REALMENTE vivo no mundo dos sonhos. Entrei nesse mundo de sopetão, por necessidade, quando era muito nova ainda. Hoje, por mais necessidade ainda, não posso, não sei e não quero sair. Não é fácil. Não pra mim, nem pra quem tenta conviver comigo.
Assumi um aspecto paradoxal: há um espelho em minha superfície que por plena necessidade de estar no mundo, real, e me abastecer em meu mundo de sonho, reflete a imagem que se aproxima desse espelho. Pareço. Tudo o que é exigido de mim, porque sei das minhas obrigações como massa semi-individual na massa geral. Mais que obrigação, é claro, há nisso um ponto de vitalidade. Pulso, na matéria corpórea, para o mundo real, mas o sangue circula pra outro destino, um não-lugar concreto, mesmo que soe estranho. E nisso me construo, pra dentro, nesse não-lugar onde atuo e creio a minha liberdade.

“Somos feitos da mesma matéria dos sonhos”.
O meu mundo é de sonhos, porque a minha matéria é a arte

08 julho, 2009

Sintonia A2

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Vibra e toca.

A boca desliza
A palavra tépida e molhada
Que ressoa silenciosa e languidamente
Aos ouvidos sequiosos
Que tremem e ardem...

Contamina, vibra e toca.

A palavra desce e preenche o corpo
Ouvidos, garganta, peito, estômago
E mais...queima!

Os olhos molhados queimam
E derretem a lágrima à boca
E torna palavra
Que navega na respiração intensa

E vibra e toca.

A face corada clareia e distende
Deglute.
Língua, garganta, peito...
Bate, bate, bate!
E vibra e toca
A palavra e o coração.

28 junho, 2009


Queria escrever mais.


Mas não acredito nas minhas próprias palavras. Elas precisam ter substância, motivo, algo que as impulsione. Sempre acho que alguém melhor terá falado melhor o que eu poderia falar. Aí, prefiro calar ou dizer o que esse outro disse.


Canso fácil. Cansei de muitas coisas, já. E nem consigo dizer isso. Falo do que é inútil, do que é simples e todos entendem, ou não, mas que pode significar alguma ou qualquer coisa. Aquilo que é forte e existe em toda sua contundência, não consigo dizer. Qualquer coisa é pouco para expressar. Por isso, amo o fantástico. Aquilo que está completamente fora do real. Nesse campo, tudo é possível. Amo Borges, apesar de tê-lo lido tão pouco. E Clarice, que é fantástica em outra dimensão.


Acho que não me habituo com a realidade. O melhor dela, pra mim, é encontrar pares que também não se habituam. Ionesco, Pessoa. E muitos outros. Soa pedante. Dane-se. Não tenho pretensão em me igualar a eles, mas tenho o direito de me identificar. Não com a obra ou o “autor”, mas com as palavras, com as frases, com o olhar.


Olho o mundo. Ele está fora de mim, e dentro. Tão dentro que dói. Parece que vou explodir muitas vezes. Isso me incomoda, irrita. Não suporto quando sou invadida, sem ao menos a chance de dizer: “Ei, calma! Aqui dentro tem algumas regras....”. Nem prestam atenção! Aí resolvo falar pela voz dos outros. E calo a minha, porque desisto. Desisto, porque canso.


Talvez eu não tenha nada mesmo pra dizer.