"Escrever nada tem a ver com significar, mas com agrimensar, cartografar, mesmo que sejam regiões ainda por vir."

Gilles Deleuze

15 novembro, 2010

Inter-cambio

Sem pensar, sem pensar, sem pensar.
Penso,
somente em caminhar.

Quando ferve dentro,
cuspo a labareda em tons dourados,
fios de ouro,
da bandeira-cor de lingua espanhola.

Cuspo las palabras que me cambián el estado
de dolor,
para no más sufrir.

Adelante! Adelante caminando...
no piensa, no piensa, no piensa,
sólo "siente al caminar"

...y ya!
De pronto estás cambiada!

15 outubro, 2010

AR-DOR

Eu tenho medo. E me afogo.
Não caminho e sinto meu corpo ardendo parado.
e se...mas, e depois?

Sonhei com um crime cometido.
Uma faca cravada bem no meio do abdomen retorcendo aquilo de dentro.
fui olhar e tudo escureceu.
No fundo daquilo que não tem nome só vive o mistério
ou o medo?

Essa noite dentro de mim...essa noite!
Apaga as luzes e os sentidos
e eu não entendo nada...
Essa força desconhecida é mais forte que o conhecido
e não dá pra voltar atrás.

*
*
*

Meu corpo ardia parado
e eu corri pro mar,
agora não dá mais pra voltar.

07 julho, 2010

Sem palavras...

O leão disse pro cavalo-marinho que não concordava com o nome dele.

- "Dele" quem?
- Que importa o sentido das palavras se nós somos animais, anta?!

01 julho, 2010

Flutuando e cantando e seguindo a canção...

Tomei banho e lavei a cabeça.
Peguei um ventinho frio quando saí,
sequei os cabelos com o calor do secador,
e tinha tomado duas cervejas.

Dormi e sonhei com pessoas fecundando a terra
no meio de serpentes
e tinha uma mulher que se irritava e amava
um homem que parecia não estar ali
mas ele estava sim
no meio das ondas do mar
fazendo seu papel de rei com outras criaturas.

Acordei com a sensação de movimento ondular
nos pés e nas mãos
e a certeza neurótica daquela mulher poderosa
na cabeça.

Tudo era estranhamente perfeito!

Resolvi levantar e escrever,
porque são 3h28 da manhã,
e eu não tenho muita certeza,
mas acho que meu mundo
tá ficando meio 3D!



Ontem, anteontem...
eu assisti Sonhos de uma Noite de Verão
de Shakespeare
no teatro.

As relações de internet, as verdades e o anticoncepcional
tão me dando enjôo.

Mas acho que a terra tem mesmo elementais
que fazem coisas mais interessantes do que a gente.

27 junho, 2010

Qual o sentido do ping-pong?

Eu tenho dois mundos na minha janela
dois mundos cruzando sem limites
na minha frente
e é difícil largar o vício
para escrever à luz da Lua

Enquanto o mundo cruza na minha frente
indistintamente
a bela lua e os automóveis
lembram-me que gosto
na mesma intensidade
de Piaf e Gotan Project
e o café que eu tomo
é precedido de uma deliciosa "bohemia"

Amo o contraste que o photoshop me dá
em fotos preto-e-branco
e não se encontram muitas Priscilas no passado
apesar do meu nome significar "antiga"



Por que insistir em dicotomias
se o que pulsa está na
intercessão?


O destaque vai para a REDE!

26 maio, 2010

Os Perfumes da Terra

.
"Já falei do perfume do jasmim? já falei do cheiro do mar. A terra é perfumada. E eu me perfumo para intensificar o que sou. Por isso não posso usar perfumes que me contrariem. Perfumar-se é uma sabedoria instintiva. E como toda arte, exige algum conhecimento de si própria. Uso um perfume cujo nome não digo: é meu, sou eu. Duas amigas já me perguntaram o nome, eu disse, elas compraram. E deram-me de volta: simplesmente não eram elas. Não digo o nome também por segredo. É bom perfumar-se em segredo."

Clarice Lispector
(Aprendendo a Viver)

06 maio, 2010

Pela força dos movimentos no tempo

.

Vai, gira essa roda.
Gira que o tempo tem de passar
Desaperta esse nó
Que segura dentro de nós
Um sentido que teima em se demorar.

Gira e afrouxa
Solta o cabelo e as linhas da memória
no ar.
Deixa passar.

Deixa que o presente
Te presenteie com o inesperado
Inusitado
Libera esse coração
Que existem sempre novas notas
Quando se trata de qualquer canção.

Vai, deixa girar
Que assim naturalmente
O corpo libera a mente
E o mundo te dá
Um novo lugar.

Mas reflete.
Que nesse gesto, o que está dentro
Vem pra fora
E desafoga,
O volume que te impede
De pensar, de agir
Essa dor não deve comprimir.

Vai, mais uma vez,
Deixa vir
Que na ação de refletir
O que está fora
Em movimentos circulares
Traz pra dentro
Aquele forte argumento
Que necessitas pra te aliviar:

Independente da força dos mares
Cada pedra
ocupa o seu devido lugar.

Apontes

.

Escrevo palavras
Espaçadas.
Sem nexo, reflexo.
Não comunico. Interajo.
Ajo.
Num circunscrito espaço.

Cores, luzes, argumentos
Experimentos
Livre pensamento

Estudo. Contudo.
Nessa matéria corpórea que componho
Que eu componho
Que me compõe.
Sem nexo,
Pode ser reflexo?

Ainda, assim, luto.
Entre a tensão e o embate,
O que sustenta e o que sufoca.
E corro.

Corro aberta, peito aberto
Porta aberta
Ao vasto mundo
Não o de Raimundo
Meu.
Sem a rima e sem a solução.

Escrevo palavras
Rasgadas,
Doídas para serem espaçadas
Nesse espaço
Que não cabe em mim.
Mas cabe a mim
e a você.

Chega.
De gregos e troianos
O mundo está lotado
E tá faltando espaço.

15 abril, 2010

...Não HÁ!

...


Não se explica
Vazio.

Ausência. Falta.

Buraco grande...
Daqueles que engolem os sentimentos
Tornam tudo entorno
Porque entornam todo o bom de dentro.

Ausência.
De mim.

Falta.
Do que pensar.



...indo.
Esvaindo...

...lendo.
Percebendo...

Simplesmente,
Não HÁ!

25 fevereiro, 2010

Da necessidade de expor um pouco do que me compõe...



Há algum tempo leio Dave Eggers com a fome de quem deseja devorar um deus! Talvez tenha sido com ele que aprendi que não se precisa de muitas palavras para se dizer alguma coisa importante, porque, quando se diz, importante mesmo é a força que cada palavra têm para cada pessoa que se envolve com ela, independente de significados. Como concisão que é uma palavra para pouco e me diz muito!

Decidi então expô-lo, me expor, com esse microconto já lido pelo menos 15 vezes, já sentido em diferentes nuances pelo menos 4 vezes (e essa é a dificuldade do pouco...precisa-se muito para compreender suas sutilezas!) e recorrente a minha memória pelo menos todas as vezes que pensei sobre a minha própria vida em relação... desde que o conheci.



Sobre o homem que começou a voar depois de conhecê-la

Quando se conheceram e gostaram tanto um do outro, ele escutou melhor as coisas e em seus olhos as linhas do mundo ficaram mais acentuadas do que antes. Ele ficou mais inteligente, mais desperto, e imaginou mais coisas para preencher os seus dias. Considerou atividades que antes lhe pareciam vagamente intrigantes, mas que agora pareciam urgentes e que, ele pensou, deviam ser feitas com sua nova companhia. Ele sentiu vontade de voar em equipamentos levíssimos com ela. Sempre se sentiu intrigado por planadores, pára-quedas, ultraleves e asas-deltas e agora sentia que este seria um aspecto de sua nova vida: que formariam um casal que voaria nos finais de semana e nas férias, em pequenas aeronaves. Aprenderiam a terminologia. Entrariam em clubes. Teriam algum tipo de trailer ou uma van bem grande, em que se transportariam a novos lugares para apreciarem lá de cima. O tipo de vôo que o interessava era próximo ao solo - menos de trinta metros acima da terra. Ele queria ver as coisas se movendo rapidamente abaixo dele, queria poder acenar para as pessoas lá embaixo, ver animais selvagens correndo e contar os golfinhos que nadavam para longe da praia. Sua esperança era de que esse seria o tipo de vôo que ela quisesse fazer também. Ele ficou tão fixado na idéia dessa pessoa, deste vôo e desta vida cingida, que não tinha certeza do que faria se não conseguisse realizá-la. Mas era estranho, ele pensou, que embora a noção de tal vôo fosse dele e que ele seria o responsável pela realização deste plano, ele precisava de outra pessoa, esta nova pessoa em seu mundo, para poder implementá-lo. Ele não queria realizar este vôo sozinho; preferia não voar a voar sem ela. Mas se pedisse para ela acompanhá-lo e ela expressasse reservas ou não ficasse inspirada, ele ficaria com ela? Será que poderia? Ele decide que não. Se ela não o acompanhar na van com as asas cuidadosamente dobradas, ele terá de partir, sorrir e partir, e então olhará novamente. Mas, quando e se ele encontrar uma outra companhia, ele sabe que seu plano não vai ser de voar. Será outro plano com outra pessoa, pois, se ele voar próximo à terra, será com ela.

In: (A Fome de Todos Nós - Dave Eggers)

24 fevereiro, 2010

Primeiras palavras de um ano há muito começado...



Muitos planos pra variar.
E uma prévia maior do que o enredo!