"Escrever nada tem a ver com significar, mas com agrimensar, cartografar, mesmo que sejam regiões ainda por vir."

Gilles Deleuze

25 fevereiro, 2010

Da necessidade de expor um pouco do que me compõe...



Há algum tempo leio Dave Eggers com a fome de quem deseja devorar um deus! Talvez tenha sido com ele que aprendi que não se precisa de muitas palavras para se dizer alguma coisa importante, porque, quando se diz, importante mesmo é a força que cada palavra têm para cada pessoa que se envolve com ela, independente de significados. Como concisão que é uma palavra para pouco e me diz muito!

Decidi então expô-lo, me expor, com esse microconto já lido pelo menos 15 vezes, já sentido em diferentes nuances pelo menos 4 vezes (e essa é a dificuldade do pouco...precisa-se muito para compreender suas sutilezas!) e recorrente a minha memória pelo menos todas as vezes que pensei sobre a minha própria vida em relação... desde que o conheci.



Sobre o homem que começou a voar depois de conhecê-la

Quando se conheceram e gostaram tanto um do outro, ele escutou melhor as coisas e em seus olhos as linhas do mundo ficaram mais acentuadas do que antes. Ele ficou mais inteligente, mais desperto, e imaginou mais coisas para preencher os seus dias. Considerou atividades que antes lhe pareciam vagamente intrigantes, mas que agora pareciam urgentes e que, ele pensou, deviam ser feitas com sua nova companhia. Ele sentiu vontade de voar em equipamentos levíssimos com ela. Sempre se sentiu intrigado por planadores, pára-quedas, ultraleves e asas-deltas e agora sentia que este seria um aspecto de sua nova vida: que formariam um casal que voaria nos finais de semana e nas férias, em pequenas aeronaves. Aprenderiam a terminologia. Entrariam em clubes. Teriam algum tipo de trailer ou uma van bem grande, em que se transportariam a novos lugares para apreciarem lá de cima. O tipo de vôo que o interessava era próximo ao solo - menos de trinta metros acima da terra. Ele queria ver as coisas se movendo rapidamente abaixo dele, queria poder acenar para as pessoas lá embaixo, ver animais selvagens correndo e contar os golfinhos que nadavam para longe da praia. Sua esperança era de que esse seria o tipo de vôo que ela quisesse fazer também. Ele ficou tão fixado na idéia dessa pessoa, deste vôo e desta vida cingida, que não tinha certeza do que faria se não conseguisse realizá-la. Mas era estranho, ele pensou, que embora a noção de tal vôo fosse dele e que ele seria o responsável pela realização deste plano, ele precisava de outra pessoa, esta nova pessoa em seu mundo, para poder implementá-lo. Ele não queria realizar este vôo sozinho; preferia não voar a voar sem ela. Mas se pedisse para ela acompanhá-lo e ela expressasse reservas ou não ficasse inspirada, ele ficaria com ela? Será que poderia? Ele decide que não. Se ela não o acompanhar na van com as asas cuidadosamente dobradas, ele terá de partir, sorrir e partir, e então olhará novamente. Mas, quando e se ele encontrar uma outra companhia, ele sabe que seu plano não vai ser de voar. Será outro plano com outra pessoa, pois, se ele voar próximo à terra, será com ela.

In: (A Fome de Todos Nós - Dave Eggers)

24 fevereiro, 2010

Primeiras palavras de um ano há muito começado...



Muitos planos pra variar.
E uma prévia maior do que o enredo!