"Escrever nada tem a ver com significar, mas com agrimensar, cartografar, mesmo que sejam regiões ainda por vir."

Gilles Deleuze

28 junho, 2009


Queria escrever mais.


Mas não acredito nas minhas próprias palavras. Elas precisam ter substância, motivo, algo que as impulsione. Sempre acho que alguém melhor terá falado melhor o que eu poderia falar. Aí, prefiro calar ou dizer o que esse outro disse.


Canso fácil. Cansei de muitas coisas, já. E nem consigo dizer isso. Falo do que é inútil, do que é simples e todos entendem, ou não, mas que pode significar alguma ou qualquer coisa. Aquilo que é forte e existe em toda sua contundência, não consigo dizer. Qualquer coisa é pouco para expressar. Por isso, amo o fantástico. Aquilo que está completamente fora do real. Nesse campo, tudo é possível. Amo Borges, apesar de tê-lo lido tão pouco. E Clarice, que é fantástica em outra dimensão.


Acho que não me habituo com a realidade. O melhor dela, pra mim, é encontrar pares que também não se habituam. Ionesco, Pessoa. E muitos outros. Soa pedante. Dane-se. Não tenho pretensão em me igualar a eles, mas tenho o direito de me identificar. Não com a obra ou o “autor”, mas com as palavras, com as frases, com o olhar.


Olho o mundo. Ele está fora de mim, e dentro. Tão dentro que dói. Parece que vou explodir muitas vezes. Isso me incomoda, irrita. Não suporto quando sou invadida, sem ao menos a chance de dizer: “Ei, calma! Aqui dentro tem algumas regras....”. Nem prestam atenção! Aí resolvo falar pela voz dos outros. E calo a minha, porque desisto. Desisto, porque canso.


Talvez eu não tenha nada mesmo pra dizer.