Queria escrever mais.
Mas não acredito nas minhas próprias palavras. Elas precisam ter substância, motivo, algo que as impulsione. Sempre acho que alguém melhor terá falado melhor o que eu poderia falar. Aí, prefiro calar ou dizer o que esse outro disse.
Canso fácil. Cansei de muitas coisas, já. E nem consigo dizer isso. Falo do que é inútil, do que é simples e todos entendem, ou não, mas que pode significar alguma ou qualquer coisa. Aquilo que é forte e existe em toda sua contundência, não consigo dizer. Qualquer coisa é pouco para expressar. Por isso, amo o fantástico. Aquilo que está completamente fora do real. Nesse campo, tudo é possível. Amo Borges, apesar de tê-lo lido tão pouco. E Clarice, que é fantástica em outra dimensão.
Acho que não me habituo com a realidade. O melhor dela, pra mim, é encontrar pares que também não se habituam. Ionesco, Pessoa. E muitos outros. Soa pedante. Dane-se. Não tenho pretensão em me igualar a eles, mas tenho o direito de me identificar. Não com a obra ou o “autor”, mas com as palavras, com as frases, com o olhar.
Olho o mundo. Ele está fora de mim, e dentro. Tão dentro que dói. Parece que vou explodir muitas vezes. Isso me incomoda, irrita. Não suporto quando sou invadida, sem ao menos a chance de dizer: “Ei, calma! Aqui dentro tem algumas regras....”. Nem prestam atenção! Aí resolvo falar pela voz dos outros. E calo a minha, porque desisto. Desisto, porque canso.
Talvez eu não tenha nada mesmo pra dizer.